PRIMEIRA PARTE
A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO
«EU CREIO» – «NÓS
CREMOS»
CAPÍTULO SEGUNDO
DEUS AO ENCONTRO DO HOMEM
50. Pela razão natural, o homem pode conhecer Deus com
certeza, a partir das suas obras. Mas existe outra ordem de conhecimento, que o
homem de modo nenhum pode atingir por suas próprias forças: a da Revelação
divina (1). Por uma vontade absolutamente livre, Deus revela-Se e dá-Se ao
homem. E fá-lo revelando o seu mistério, o desígnio benevolente que, desde toda
a eternidade, estabeleceu em Cristo, em favor de todos os homens. Revela
plenamente o seu desígnio, enviando o seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus
Cristo, e o Espírito Santo.
A REVELAÇÃO DE DEUS
I. Deus revela o seu «desígnio benevolente»
51. «Aprouve a Deus, na sua sabedoria e bondade, revelar-Se
a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o qual os homens,
por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se
tomam participantes da natureza divina»(2).
52. Deus, que «habita numa luz inacessível» (1 Tm 6,
16), quer comunicar a sua própria vida divina aos homens que livremente
criou, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adoptivos (3). Revelando-Se
a Si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O
conhecerem e de O amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes por si
próprios.
53. O desígnio divino da Revelação realiza-se, ao mesmo
tempo, «por meio de acções e palavras, intrinsecamente relacionadas entre si»
(4) e esclarecendo-se mutuamente. Comporta uma particular «pedagogia divina»:
Deus comunica-Se gradualmente ao homem e prepara-o, por etapas, para receber a
Revelação sobrenatural que faz de Si próprio e que vai culminar na Pessoa e
missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
Santo Ireneu de Lião fala várias vezes desta pedagogia divina, sob
a imagem da familiaridade mútua entre Deus e o homem: «O Verbo de Deus [...]
habitou no homem e fez-Se Filho do Homem, para acostumar o homem a apreender
Deus e Deus a habitar no homem, segundo o beneplácito do Pai»
(5).
II. As etapas da Revelação
DESDE A ORIGEM, DEUS DÁ-SE A CONHECER
54. «Deus, criando e conservando todas as coisas pelo
Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo nas coisas criadas,
e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se
a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais» (6). Convidou-os a uma
comunhão íntima consigo, revestindo-os de uma graça e justiça
resplandecentes.
55. Esta Revelação não foi interrompida pelo pecado dos
nossos primeiros pais. Com efeito, Deus, «depois da sua queda, com a promessa de
redenção, deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente do género
humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das
boas obras, procuram a salvação»(7).
«E quando, por desobediência, perdeu a vossa amizade, não o
abandonastes ao poder da morte [...] Repetidas vezes fizestes aliança com os
homens (8)».
A ALIANÇA COM NOÉ
56. Desfeita a unidade do género humano pelo pecado, Deus
procurou imediatamente, salvar a humanidade intervindo com cada uma das suas
partes. A aliança com Noé, a seguir ao dilúvio (9), exprime o princípio da
economia divina em relação às «nações», quer dizer, em relação aos homens
reagrupados «por países e línguas, por famílias e nações» (Gn 10, 5)
(10).
57. Esta ordem, ao mesmo tempo cósmica, social e religiosa
da pluralidade das nações (11), destinava-se a limitar o orgulho duma humanidade
decaída, que, unânime na sua perversidade (12), pretendia refazer por si mesma a
própria unidade, à maneira de Babel (13). Mas, por causa do pecado (14), quer o
politeísmo quer a idolatria da nação e do seu chefe são uma contínua ameaça de
perversão pagã a esta economia provisória.
58. A aliança com Noé permanece em vigor enquanto durar o
tempo das nações (15), até à proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera
algumas grandes figuras das «nações», como «o justo Abel», o rei e sacerdote
Melquisedec (16), figura de Cristo (17), ou os justos «Noé, Danel e Job» (Ez
14, 14). Deste modo, a Escritura exprime o alto grau de santidade que podem
atingir os que vivem segundo a aliança de Noé, na expectativa de que Cristo
«reúna, na unidade, todos os filhos de Deus dispersos» (Jo 11, 52).
DEUS ELEGE ABRAÃO
59. Para reunir a humanidade dispersa, Deus escolhe Abrão,
chamando-o para «deixar a sua terra, a sua família e a casa de seu pai» (Gn
12, 1), para o fazer Abraão, quer dizer, «pai de um grande número de
nações» (Gn 17, 5): «Em ti serão abençoadas todas as nações da Terra»
(Gn 12, 3) (18).
60. O povo descendente de Abraão será o depositário da
promessa feita aos patriarcas, o povo eleito (19), chamado a preparar a reunião,
um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da Igreja (20). Será o tronco em
que serão enxertados os pagãos tornados crentes (21).
61. Os patriarcas, os profetas e outras personagens do
Antigo Testamento foram, e serão sempre, venerados como santos em todas as
tradições litúrgicas da Igreja.
DEUS FORMA O SEU POVO ISRAEL
62. Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu
povo, salvando-o da escravidão do Egipto. Concluiu com ele a aliança do Sinai e
deu-lhe, por Moisés, a sua Lei, para que Israel O reconhecesse e O servisse como
único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo Juiz, e vivesse na
expectativa do Salvador prometido (22).
63. Israel é o povo sacerdotal de Deus (23), sobre o qual
«foi invocado o Nome do Senhor» (Dt 28, 10). É o povo daqueles «a quem
Deus falou em primeiro lugar»(24), o povo dos «irmãos mais velhos» na fé de
Abraão (25).
64. Pelos profetas, Deus forma o seu povo na esperança da
salvação, na expectativa duma aliança nova e eterna, destinada a todos os homens
(26), e que será gravada nos corações (27). Os profetas anunciam uma redenção
radical do povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades
(28), uma salvação que abrangerá todas as nações (29). Serão
sobretudo os pobres e os humildes do Senhor (30) os portadores desta esperança.
As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e
Ester conservaram viva a esperança da salvação de Israel. Maria é a imagem
puríssima desta esperança (31).
III. Jesus Cristo – «Mediador e plenitude de toda a Revelação»
(32)
NO SEU VERBO, DEUS DISSE TUDO
65. «Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente
aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos pelo
seu Filho» (Heb 1, 1-2). Cristo, Filho de Deus feito homem, é a Palavra
única, perfeita e insuperável do Pai.
N'Ele, o Pai disse tudo. Não haverá outra palavra além dessa. São
João da Cruz, após tantos outros, exprime-o de modo luminoso, ao comentar
Heb 1, 1-2:
«Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra – e
não tem outra – (Deus) disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta
Palavra única e já nada mais tem para dizer. [...] Porque o que antes disse
parcialmente pelos profetas, revelou-o totalmente, dando-nos o Todo que é o seu
Filho. E por isso, quem agora quisesse consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma
visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por
não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora d'Ele outra realidade ou
novidade» (33).
JÁ NÃO HAVERÁ OUTRA REVELAÇÃO
66. «Portanto, a economia cristã, como nova e definitiva
aliança, jamais passará, e já não se há-de esperar nenhuma nova revelação
pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo»(34). No
entanto, apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente
explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu
alcance, no decorrer dos séculos.
67. No decurso dos séculos tem havido revelações ditas
«privadas», algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja.
Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» ou
«completar» a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais
plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da
Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações
constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja.
A fé cristã não pode aceitar «revelações» que pretendam
ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é a plenitude. É o caso de
certas religiões não-cristãs, e também de certas seitas recentes. fundadas sobre
tais «revelações».
Resumindo:
68. Por amor, Deus revelou-Se e deu-Se ao homem.
Dá assim uma resposta definitiva e superabundante às questões que o homem se põe
a si próprio sobre o sentido e o fim da sua vida.
69. Deus revelou-Se ao homem, comunicando-lhe
gradualmente o seu próprio mistério, por acções e por palavras.
70. Além do testemunho que dá de Si mesmo através das
coisas criadas, Deus manifestou-Se a Si próprio aos nossos primeiros pais.
Falou-lhes e, depois da queda, prometeu-lhes a salvação (35) e
ofereceu-lhes a sua aliança.
71. Deus concluiu com Noé uma aliança eterna entre Si e
todos os seres vivos (36). Essa aliança durará enquanto durar o
mundo.
72. Deus escolheu Abraão e concluiu uma aliança com ele
e os seus descendentes. Fez deles o seu povo, ao qual revelou a sua Lei por
meio de Moisés. E preparou-o, pelos profetas, a acolher a salvação destinada
a toda a humanidade.
73. Deus revelou-Se plenamente enviando o seu próprio
Filho, no qual estabeleceu a sua aliança para sempre. O Filho é a Palavra
definitiva do Pai, de modo que, depois d'Ele, não haverá outra
Revelação.
A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA
74. Deus «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao
conhecimento da verdade» (1 Tm 2, 4), quer dizer, de Cristo Jesus
(37). Por isso, é preciso que Cristo seja anunciado a todos os povos e a todos
os homens, e que, assim a Revelação chegue aos confins do mundo:
Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse
transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de
todos os povos (38).
I. A Tradição apostólica
75. «Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus
altíssimo se consuma, tendo cumprido e promulgado pessoalmente o Evangelho antes
prometido pelos profetas, mandou aos Apóstolos que o pregassem a todos, como
fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes,
comunicando-lhes assim os dons divinos» (39).
A PREGAÇÃO APOSTÓLICA ...
76. A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do Senhor,
fez-se de duas maneiras:
– oralmente, «pelos Apóstolos, que, na sua pregação oral,
exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios,
trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito
Santo»;
– por escrito, «por aqueles apóstolos e varões apostólicos
que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da
salvação» (40).
... CONTINUADA NA SUCESSÃO APOSTÓLICA
77. «Para que o Evangelho fosse perenemente conservado
íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores,
"entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério"» (41). Com efeito, «a
pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados,
devia conservar-se, por uma sucessão ininterrupta, até à consumação dos tempos»
(42).
78. Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo,
denomina-se Tradição, enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora
estreitamente a ela ligada. Pela Tradição, «a Igreja, na sua doutrina, vida e
culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em
que acredita» (43). «Afirmações dos santos Padres testemunham a presença
vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da
Igreja crente e orante» (44).
79. Assim, a comunicação que o Pai fez de Si próprio, pelo
seu Verbo, no Espírito Santo, continua presente e activa na Igreja: «Deus, que
outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o
Espírito Santo – por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja, e, pela Igreja,
no mundo – introduz os crentes na verdade plena e faz com que a palavra de
Cristo neles habite em toda a sua riqueza» (45).
II. A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
UMA FONTE COMUM...
80. «A Tradição sagrada e a Sagrada Escritura estão
intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da
mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim» 16. Uma e
outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu
estar com os seus, «sempre, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
... DUAS FORMAS DE TRANSMISSÃO DISTINTAS
81. «A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus
enquanto foi escrita por inspiração do Espírito divino».
«A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de
Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e
transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a luz do
Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação»
(47).
82. Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a
transmissão e interpretação da Revelação, «não tira só da Sagrada Escritura a
sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser
recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência» (48).
TRADIÇÃO APOSTÓLICA E TRADIÇÕES ECLESIAIS
83. A Tradição de que falamos aqui é a que vem dos
Apóstolos. Ela transmite o que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e
aprenderam pelo Espírito Santo. De facto, a primeira geração de cristãos não
tinha ainda um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento testemunha o
processo da Tradição viva.
É preciso distinguir, desta Tradição, as «tradições» teológicas,
disciplinares, litúrgicas ou devocionais, nascidas no decorrer do tempo nas
Igrejas locais. Elas constituem formas particulares, sob as quais a grande
Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diferentes
épocas. É à sua luz que estas podem ser mantidas, modificadas e até abandonadas,
sob a direcção do Magistério da Igreja.
III. A interpretação da herança da fé
A HERANÇA DA FÉ CONFIADA À TOTALIDADE DA IGREJA
84. O depósito da fé (49) («depositum fidei»),
contido na Tradição sagrada e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos
ao conjunto da Igreja. «Apoiando-se nele, todo o povo santo persevera unido aos
seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na
oração, de tal modo que, na conservação, actuação e profissão da fé transmitida,
haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis» (50).
O MAGISTÉRIO DA IGREJA
85. «O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de
Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao Magistério vivo da
Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo (51), isto é, aos
bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
86. «Todavia, este Magistério não está acima da Palavra de
Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto,
por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a
guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé
tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado» (52).
87. Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos
Apóstolos: «Quem vos escuta escuta-me a Mim» (Lc 10, 16) (53), recebem
com docilidade os ensinamentos e as directrizes que os seus pastores lhes dão,
sob diferentes formas.
OS DOGMAS DA FÉ
88. O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que
recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe, dum modo que
obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades contidas na
Revelação divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que tenham com
elas um nexo necessário.
89. Existe uma ligação orgânica entre a nossa vida
espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé: iluminam-no
e tornam-no seguro. Por outro lado, se a nossa vida for recta, a nossa
inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé
(54).
90. A interligação e a coerência dos dogmas podem
encontrar-se no conjunto da revelação do mistério de Cristo (55). Convém lembrar
que «existe uma ordem ou "hierarquia" das verdades da doutrina católica, já que
o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente» (56).
O SENTIDO SOBRENATURAL DA FÉ
91. Todos os fiéis participam na compreensão e na
transmissão da verdade revelada. Todos receberam a unção do Espírito Santo que
os instrui (57) e os conduz «à verdade total» (Jo 16, 13).
92. «A totalidade dos fiéis [...] não pode enganar-se na fé
e manifesta esta sua propriedade peculiar por meio do sentir sobrenatural da fé
do povo todo, quando, "desde os bispos até ao último dos fiéis leigos", exprime
consenso universal em matéria de fé e costumes» (58).
93. «Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta
pela acção do Espírito de verdade, o povo de Deus, sob a direcção do sagrado
Magistério [...] adere indefectivelmente à fé, uma vez por todas confiada aos
santos; penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais
totalmente na vida» (59).
O CRESCIMENTO NA INTELIGÊNCIA DA FÉ
94. Graças à assistência do Espírito Santo, a inteligência
das realidades e das palavras do depósito da fé pode crescer na vida da
Igreja:
– «Pela contemplação e pelo estudo dos crentes, que as meditam no
seu coração» (60); e particularmente pela «investigação teológica, que aprofunda
o conhecimento da verdade revelada» (61).
– «Pela inteligência interior das coisas espirituais que os
crentes experimentam» (62); «Divina eloquia cum legente crescunt» – «As
palavras divinas crescem com quem as lê» (63).
– «Pela pregação daqueles que receberam, com a sucessão episcopal,
um carisma certo da verdade» (64).
95. «É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a Sagrada
Escritura e o Magistério da Igreja, segundo um sapientíssimo desígnio de Deus,
estão de tal maneira ligados e conjuntos, que nenhum pode subsistir sem os
outros e, todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo,
contribuem eficazmente para a salvação das almas» (65).
Resumindo:
96. O que Cristo confiou aos Apóstolos, estes o
transmitiram, pela sua pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito
Santo, a todas as gerações, até à vinda gloriosa de Cristo.
97. «A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem
um único depósito sagrado da Palavra de Deus» (66), no qual, como num
espelho, a Igreja peregrina contempla Deus, fonte de todas as suas riquezas.
98. «Na sua doutrina, vida e culto, a Igreja
perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é, tudo aquilo em
que acredita» (67).
99. Graças ao sentido sobrenatural da fé, o povo
de Deus, no seu todo, não cessa de acolher o dom da Revelação divina, de nele
penetrar mais profundamente e de viver dele mais plenamente.
100. O encargo de interpretar autenticamente a Palavra
de Deus foi confiado unicamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em
comunhão com ele.
A SAGRADA ESCRITURA
I. Cristo – Palavra única da Escritura santa
101. Na sua bondade condescendente, para Se revelar aos
homens. Deus fala-lhes em palavras humanas: «As palavras de Deus, com efeito,
expressas por línguas humanas, tornaram-se semelhantes à linguagem humana, tal
como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens assumindo a carne da
debilidade humana» (68).
102. Através de todas as palavras da Sagrada Escritura.
Deus não diz mais que uma só Palavra, o seu Verbo único, em quem totalmente Se
diz (69):
«Lembrai-vos de que o discurso de Deus que se desenvolve em todas
as Escrituras é um só e um só é o Verbo que Se faz ouvir na boca de todos os
escritores sagrados, o qual, sendo no princípio Deus junto de Deus, não tem
necessidade de sílabas, pois não está sujeito ao tempo» (70).
103. Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas
Escrituras tal como venera o Corpo do Senhor. Nunca cessa de distribuir aos
fiéis o Pão da vida, tornado à mesa quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de
Cristo (71).
104. Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra continuamente
o seu alimento e a sua força (72), porque nela não recebe apenas uma palavra
humana, mas o que ela é na realidade: a Palavra de Deus (73). «Nos livros
sagrados, com efeito, o Pai que está nos Céus vem amorosamente ao encontro dos
seus filhos, a conversar com eles» (74).
II. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura
105. Deus é o autor da Sagrada Escritura. «A verdade
divinamente revelada, que os livros da Sagrada Escritura contêm e apresentam,
foi registrada neles sob a inspiração do Espírito Santo».
«Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica,
considera como sagrados e canónicos os livros completos do Antigo e do Novo
Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito
Santo, têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja»
(75).
106. Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.
«Para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse
das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles,
pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele
queria» (76).
107. Os livros inspirados ensinam a verdade. «E assim como
tudo o que os autores inspirados ou hagiógrafos afirmam, deve ser tido como
afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da
Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus quis que
fosse consignada nas sagradas Letras em ordem à nossa salvação» (77).
108. No entanto, a fé cristã não é uma «religião do Livro».
O Cristianismo é a religião da «Palavra» de Deus, «não duma palavra escrita e
muda, mas do Verbo encarnado e vivo» (78). Para que não sejam letra morta, é
preciso que Cristo, Palavra eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o
espírito à inteligência das Escrituras (79).
III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura
109. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos
homens. Portanto, para bem interpretar a Escritura, é necessário prestar atenção
ao que os autores humanos realmente quiseram dizer, e àquilo que aprouve a Deus
manifestar-nos pelas palavras deles (80).
110. Para descobrir a intenção dos autores sagrados,
é preciso ter em conta as condições do seu tempo e da sua cultura, os «géneros
literários» em uso na respectiva época, os modos de sentir, falar e narrar
correntes naquele tempo. «Porque a verdade é proposta e expressa de modos
diversos, em textos históricos de vária índole, ou proféticos, ou poéticos ou de
outros géneros de expressão»(81).
111. Mas, uma vez que a Sagrada Escritura é inspirada,
existe outro princípio de interpretação recta, não menos importante que o
anterior, e sem o qual a Escritura seria letra morta: «A Sagrada Escritura deve
ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita» (82).
O II Concílio do Vaticano indica três critérios para uma
interpretação da Escritura conforme ao Espírito que a inspirou (83):
112. 1. Prestar grande atenção «ao conteúdo e à unidade
de toda a Escritura». Com efeito, por muito diferentes que sejam os livros
que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus, de
que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa (84).
«Por coração (85) de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos
dá a conhecer o coração de Cristo. Este coração estava fechado antes da Paixão,
porque a Escritura estava cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta
depois da Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com inteligência,
discernem o modo como as profecias devem ser interpretadas»
(86).
113. 2. Ler a Escritura na «tradição viva de toda a
Igreja». Segundo uma sentença dos Padres, «Sacra Scriptura principalius
est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta» – «A
Sagrada Escritura está escrita no coração da Igreja, mais do que em instrumentos
materiais» (87). Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória viva da
Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da
Escritura («... secundum spiritualem sensum quem Spiritus donat Ecclesiae»
«segundo o sentido espiritual que o Espírito Santo dá à Igreja») (88).
114. 3. Estar atento «à analogia da fé» (89). Por
«analogia da fé» entendemos a coesão das verdades da fé entre si e no projecto
total da Revelação.
OS SENTIDOS DA ESCRITURA
115. Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois
sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual,
subdividindo-se este último em sentido alegórico, moral e anagógico. A
concordância profunda dos quatro sentidos assegura a sua riqueza à leitura viva
da Escritura na Igreja:
116. O sentido literal. É o expresso pelas palavras
da Escritura e descoberto pela exegese segundo as regras da recta interpretação.
«Omnes sensus (sc. Sacrae Scripturae) fundentur super litteralem» – «Todos os
sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam no literal» (90).
117. O sentido espiritual. Graças à unidade do
desígnio de Deus, não só o texto da Escritura, mas também as realidades e
acontecimentos de que fala, podem ser sinais.
1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão
mais profunda dos acontecimentos, reconhecendo o seu significado em Cristo: por
exemplo, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo e, assim,
do Baptismo (91).
2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos na
Escritura podem conduzir-nos a um comportamento justo. Foram escritos «para
nossa instrução» (1 Cor 10, 11) (92).
3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e
acontecimentos no seu significado eterno, o qual nos conduz (em grego:
«anagoge») em direcção à nossa Pátria. Assim, a Igreja terrestre é sinal da
Jerusalém celeste (93).
118. Um dístico medieval resume a significação dos quatro
sentidos:
«Littera gesta docet, quid credas allegoria.
Moralis quid agas,
quo tendas anagogia».
«A letra ensina-te os factos (passados), a
alegoria o que deves crer,
a moral o que deves fazer, a
anagogia para onde deves tender» (94).
119. «Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas
regras, por entender e expor mais profundamente o sentido da Sagrada Escritura,
para que, mercê deste estudo, de algum modo preparatório, amadureça o juízo da
Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está
sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de
guardar e interpretar a Palavra de Deus» (95):
«Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae
commoveret auctoritas» – «Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me
movesse a isso a autoridade da Igreja católica» (96).
IV. O Cânon das Escrituras
120. Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a
discernir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados
(97). Esta lista integral é chamada «Cânon» das Escrituras. Comporta, para o
Antigo Testamento, 46 (45, se se contar Jeremias e as Lamentações como um só)
escritos, e, para o Novo, 27 (95):
Para o Antigo Testamento: Génesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronómio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos
Reis, os dois livros das Crónicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os
dois livros dos Macabeus, Job, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou
Coelet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou
Eclesiástico), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel,
Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias e Malaquias;
Para o Novo Testamento: Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e
João; os Actos dos Apóstolos; as epístolas de São Paulo: aos Romanos, primeira e
segunda aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos
Colossenses, primeira e segunda aos Tessalonicenses, primeira e segunda a
Timóteo, a Tito, a Filémon: a Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago, a
primeira e segunda de Pedro, as três epístolas de João, a Epístola de Judas e o
Apocalipse.
O ANTIGO TESTAMENTO
121. O Antigo Testamento é uma parte da Sagrada Escritura
de que não se pode prescindir. Os seus livros são divinamente inspirados e
conservam um valor permanente (99), porque a Antiga Aliança nunca foi
revogada.
122. Efectivamente, «a "economia"do Antigo Testamento
destinava-se, sobretudo, a preparar [...] o advento de Cristo, redentor
universal».
Os livros do Antigo Testamento, «apesar de conterem também coisas
imperfeitas e transitórias», dão testemunho de toda a divina pedagogia do amor
salvífico de Deus: neles «encontram-se sublimes doutrinas a respeito de Deus,
uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de
preces»; neles, em suma, está latente o mistério da nossa salvação» (100).
123. Os cristãos veneram o Antigo Testamento como
verdadeira Palavra de Deus. A Igreja combateu sempre vigorosamente a ideia de
rejeitar o Antigo Testamento, sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar
(Marcionismo).
O NOVO TESTAMENTO
124. «A Palavra de Deus, que é força de Deus para salvação
de quem acredita, apresenta-se e manifesta o seu poder dum modo eminente nos
escritos do Novo Testamento»(101). Estes escritos transmitem-nos a verdade
definitiva da Revelação divina. O seu objecto central é Jesus Cristo, o Filho de
Deus encarnado, os seus actos, os seus ensinamentos, a sua Paixão e
glorificação, bem como os primórdios da sua Igreja sob a acção do Espírito Santo
(102).
125. Os evangelhos são o coração de todas as
Escrituras, «enquanto são o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo
encarnado, nosso Salvador» (103).
126. Na formação dos evangelhos podemos distinguir três
etapas:
1. A vida e os ensinamentos de Jesus. A Igreja
sustenta firmemente que os quatro evangelhos, «cuja historicidade afirma sem
hesitações, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, realmente
operou e ensinou para salvação eterna dos homens, durante a sua vida terrena,
até ao dia em que subiu ao Céu».
2. A tradição oral. «Na verdade, após a Ascensão do Senhor,
os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes (com aquela compreensão mais plena
de que gozavam, uma vez instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e
iluminados pelo Espírito de verdade) as coisas que Ele tinha dito e feito».
3. Os evangelhos escritos. «Os autores sagrados, porém,
escreveram os quatro evangelhos, escolhendo algumas coisas, entre as muitas
transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo
outras, segundo o estado das Igrejas, conservando, finalmente, o carácter de
pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas verdadeiras e sinceras
acerca de Jesus» (104).
127. O Evangelho quadriforme ocupa na Igreja um lugar
único, de que são testemunhas a veneração de que a Liturgia o rodeia e o
atractivo incomparável que em todos os tempos exerceu sobre os santos:
«Não há doutrina melhor, mais preciosa e esplêndida do que o texto
do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senhor e Mestre, Cristo, ensinou pelas
suas palavras e realizou pelos seus actos» (105).
«É sobretudo o Evangelho
que me ocupa durante as minhas orações. Nele encontro tudo o que é
necessário à minha pobre alma. Nele descubro sempre novas luzes, sentidos
escondidos e misteriosos» (106).
A UNIDADE DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO
128. A Igreja, já nos tempos apostólicos (107), e depois
constantemente na sua Tradição, pôs em evidência a unidade, do plano divino nos
dois Testamentos, graças à tipologia. Esta descobre nas obras de Deus, na
Antiga Aliança, prefigurações do que o mesmo Deus realizou na plenitude dos
tempos, na pessoa do seu Filho encarnado.
129. Os cristãos lêem, pois, o Antigo Testamento à luz de
Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica manifesta o conteúdo
inesgotável do Antigo Testamento. Mas não deve fazer-nos esquecer de que ele
mantém o seu valor próprio de Revelação, reafirmado pelo próprio Jesus, nosso
Senhor (108). Aliás, também o Novo Testamento requer ser lido à luz do Antigo. A
catequese cristã primitiva recorreu constantemente a este método (109). Segundo
um velho adágio, o Novo Testamento está oculto no Antigo, enquanto o Antigo é
desvendado no Novo: « Novum in Vetere latet et in Novo Vetus patet» – «O Novo
está oculto no Antigo, e o Antigo está patente no Novo» (110).
130. A tipologia significa o dinamismo em ordem ao
cumprimento do plano divino, quando «Deus for tudo em todos» (1 Cor 15,
28). Assim, a vocação dos patriarcas e o êxodo do Egipto, por exemplo, não
perdem o seu valor próprio no plano de Deus pelo facto de, ao mesmo tempo, serem
etapas intermédias desse mesmo plano.
V. A Sagrada Escritura na vida da Igreja
131. «É tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus, que ela se
torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé,
alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual» (111). É necessário
que «os fiéis tenham largo acesso à Sagrada Escritura» (112).
132. «O estudo das Páginas sagradas deve ser como que a "alma" da
sagrada teologia. Também o ministério da Palavra, isto é, a pregação pastoral, a
catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica
deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora
com a palavra da Escritura» (113).
133. A Igreja «exorta com ardor e insistência todos os fiéis [...] a
que aprendam "a sublime ciência de Jesus Cristo" (
Fl. 3, 8) na leitura
frequente da Sagrada Escritura. Porque "a ignorância das Escrituras é ignorância
de Cristo"» (114).
Resumindo:
134. Omnis Scriptura divina unus liber est, et ille unus liber
Christus est, «quia omnis Scriptura divina de Christo loquitur; et omnis
Scriptura divina in Christo impletur» – Toda a Escritura divina é um só livro, e
esse livro único é Cristo, «porque toda a Escritura divina fala de Cristo e toda
a Escritura divina se cumpre em Cristo» (115).
135. «As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus; e, pelo
facto de serem inspiradas, são verdadeiramente a Palavra de Deus» (116).
136. Deus é o autor da Sagrada Escritura, ao inspirar os seus
autores humanos: age neles e por eles. E assim nos dá a garantia de que os seus
escritos ensinam, sem erro, a verdade da salvação (117).
137. A interpretação das Escrituras inspiradas deve, antes de mais
nada, estar atenta ao que Deus quer revelar, por meio dos autores sagrados, para
nossa salvação. O que vem do Espírito não é plenamente entendido senão pela
acção do Espírito (118).
138. A Igreja recebe e venera, como inspirados, os 46
livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento.
139. Os quatro evangelhos ocupam um lugar central, dado
que Jesus Cristo é o seu centro.
140. A unidade dos dois Testamentos deriva da unidade do
plano de Deus e da sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo
que o Novo dá cumprimento ao Antigo. Os dois esclarecem-se mutuamente; ambos são
verdadeira Palavra de Deus.
141. «A Igreja sempre venerou as Divinas Escrituras, tal
como o próprio Corpo do Senhor» ambos alimentam e regem toda a vida cristã. «A
vossa Palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos» (Sl 119,
105)(120).
1. Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c.
4: DS 3015.
2. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2: AAS
58 (1966) 818.
3. Cf. Ef 1, 4-5.
4. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2:
AAS 58 (1966) 818.
5. Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses III,
20, 2: SC 211, 392 (PG 7, 944); cf. por exemplo, Ibid. III 17, I:
SC 211. 330 (PG 7, 929); Ibid. IV, 12. 4: SC 100, 518 (PG 7,
1006); Ibid. IV 21, 3: SC 100, 684 (PG 7, 1046).
6. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3: AAS
58 (1966) 818.
7. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3: AAS
58 (1966) 818.
8. Oração eucarística IV: Missal Romano, editio typica.
Typis Polyglottis Vaticanis. 1970 p. 467. [Gráfica de Coimbra 1992, p. 538].
9. Cf. Gn 9, 9.
10. Cf. Gn 10, 20-31.
11. Cf. Act 17, 26-27.
12. Cf. Sb 10, 5.
13. Cf. Gn 11, 4-6.
14. Cf. Rm 1, 18-25.
15. Cf. Lc 21, 24.
16. Cf. Gn 14, 18.
17. Cf. Heb 7, 3.
18. Cf. Gl 3, 8.
19. Cf. Rm 11, 28.
20. Cf. Jo 11, 52; 10, 16.
21. Cf. Rm 11, 17-18. 24.
22. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3:
AAS 58 (1966) 818.
23. Cf. Ex 19, 6.
24. Sexta-Feira da Paixão do Senhor. Oração universal VI:
Missale Romanum. editio typica. Typis Polyglottis Vaticanis 1975, p.
254 [a tradução oficial portuguesa omite este particular: Missal
Romano. Gráfica de Coimbra 1992. p. 259.267].
25. João Paulo II, Discurso na sinagoga durante o encontro com
a comunidade hebraica da cidade de Roma (13 de Abril de 1986), 4:
Insegnamenti di Giovanni Paolo II, IX/1, 1027.
26. Cf. Is 2, 2-4.
27. Cf. Jr 31, 31-34: Heb 10, 16.
28. Cf. Ez 36.
29. Cf. Is 49, 5-6: 53, 11.
30. Cf. Sf 2, 3.
31. Cf. Lc 1, 38.
32. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2: AAS
58 (1966) 818.
33. São João da Cruz, Subida del monte Carmelo 2, 22, 3-5:
Biblioteca Mística Carmelitana, v. 11, Burgos 1929. p. 184. [ID. Obras
Completas (Paço de Arcos, Edições Carmelo 1986) p. 196 = Segunda leitura do
Ofício de Leituras da Segunda-Feira da II Semana do Advento].
34. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 4:
AAS 58 (1966) 819.
35. Cf. Gn 3, 15.
36. Cf. Gn 9, 16.
37. Cf. Jo 14, 6.
38. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 7:
AAS 58 (1966) 820.
39. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 7:
AAS 58 (1966) 820.
40. II Concílio do Vaticano, Const. dogn. Dei Verbum, 7:
AAS 58 (1966) 820.
41. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 7:
AAS 58 (1966) 820.
42. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
8: AAS 58 (1966) 821.
43. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8:
AAS 58 (1966) 821.
44. II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum,
8: AAS 58 (1966) 821.
45. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
8: AAS 58 (1966) 821.
46. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 9:
AAS 58 (1966) 821.
47. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 9:
AAS 58 (1966) 821.
48. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 9:
AAS 58 (1966) 821.
49. Cf. 1 Tm 6, 20; 2 Tm 1, 12-14.
50. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 10:
AAS 58 (1966) 822.
51. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
10: AAS 58 (1966) 82.
52. Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum, 10: AAS
58 (1966) 822.
53. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
20: AAS 57 (1965) 24.
54. Cf. Jo 8, 31-32.
55. Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c.
4: DS 3016 «mysteriorum nexus». Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm.
Lumen Gentium, 25: AAS 57 (1965) 29.
56. II Concílio do Vaticano, Decr. Unitatis redintegratio,
11: AAS 57 (1965) 99.
57. Cf. 1 Jo 2, 20. 27.
58. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
12: AAS 57 (1965) 16.
59. II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Lumen Gentium,
12: AAS 57 (1965) 16.
60. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8:
AAS 58 (1966) 821.
61. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes,
62: AAS 58 (1966) 1084: cf. Ibid.. 44: AAS 58 (1966) 1065; Const.
dogm. Dei Verbum, 23: AAS 58 (1966) 828; Ibid. 24: AAS
58 (1966) 828-829: Decr. Unitatis redintegratio, 4: AAS 57 (1965)
94.
62. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8:
AAS 58 (1966) 821.
63. São Gregório Magno, Homilia in Ezechielem 1. 7, 8: CCL
142. 87 (PL 76, 843 D).
64. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8:
AAS 58 (1966) 821.
65. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 10:
AAS 58 (1966) 822.
66. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 10:
AAS 58 (1966) 822.
67. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8:
AAS 58 (1966) 821.
68. II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum,
13: AAS 58 (1966) 824.
69. Cf. Heb 1, 1-3.
70. Santo Agostinho, Enarratio in Psalmum 103, 4,
1: CCL 40, 1521 (PL 37, 1378).
71. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 21:
AAS 58 (1966) 827.
72. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 24:
AAS 58 (1966) 829.
73. Cf. 1 Ts 2, 13.
74. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 21:
AAS 58 (1966) 827-828.
75. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 11:
AAS 58 (1966) 822-823.
76. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 11:
AAS 58 (1966) 823.
77. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 11:
AAS 58 (1966) 823.
78. São Bernardo de Claraval, Homilia super "Missus
est", 4, 11: Opera, ed. J. Leclercq – H. Rochais, V. 4, Roma 1966, p.
57.
79. Cf. Lc 24, 45.
80. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei
Verbum 12: AAS 58 11966) 823.
81. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 12:
AAS 58 (1966) 823.
82. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 12:
AAS 58 (1966) 824.
83. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 12:
AAS 58 (1966) 824.
84. Cf. Lc 24. 25-27. 44-46.
85. Cf. Sl 22, 15.
86. São Tomás de Aquino, Expositio in Psalmos, 21,
11:Opera amnia. v. 18. Paris 1876, p. 350.
87. Cf. Santo Hilário de Poitiers, Liber ad Constantium
Imperatorem 9: CSEL 65. 204 PL 10, 570); São Jerónimo.
Commentarius in epistulam ad Galatas I 1, 11-12: PL 26. 347.
88. Orígenes, Homiliae in Leviticum 5, 5: SC 286, 228 (PG
12, 454).
89. Cf. Rm 12, 6.
90. São Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q. 1,
a. 10, ad I: Ed. Leon. 4, 25.
91. Cf. 1 Cor 10, 2.
92. Cf. Heb 3-4, 11.
93. Cf. Ap 21, 1-22, 5.
94. Agostinho de Dácia, Rotulus pugillaris, I: ed.
A. Waltz: Angelicum 6(1929) 256.
95. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 12:
AAS 58 (1966) 824.
96. Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei quam vocant
fundamenti 5. 6: CSEL 25, 197 (PL 42, 176).
97. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8:
AAS 58 (1966) 821.
98. Cf. Decretum Damasi: DS 179-180: Concílio de
Florença, Decretum pro Iacobitis: DS 1334-1336; Concílio de Trento. Sess.
4ª. Decretum de Libris Sacris et de traditionibus recipiendis: DS
1501-1504.
99. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 14:
AAS 58 (1966) 825.
100. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 15:
AAS 58 (1966) 825.
101. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei
Verbum, 17: AAS 58 (1966) 826.
102. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 20:
AAS 58 (1966) 827.
103. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei
Verbum, 18: AAS 58 (1966) 826.
104. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 19:
AAS 58 (1966) 826-827.
105. Santa Cesária, A Jovem, Epistula ad Richildam et
Radegundem: SC 345, 480.
106. Santa Teresa do Menino Jesus, Manuscrit A, 83v:
Manuscrits autobiographiques, Paris 1929, p. 268. [Santa Teresa do Menino
Jesus e da Santa Face, Obras Completas (Paço de Arcos. Edições do Carmelo
1996) p. 213].
107. Cf. 1 Cor 10, 6: Heb 10, 1; 1 Pe 3, 21.
108. Cf. Mc 12, 29-31.
109. Cf. 1 Cor 5, 6-8: 10, 1-11.
110. Santo Agostinho, Quaestiones in Heptateucumt 2,
73: CCL 33. 106 (PL 34, 623); cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei
Verbum, 16: AAS 58 (1966) 825.
111. Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 21: A
AS 58 (1966) 828.
112. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 22:
AAS 58 (1966) 828.
113. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 24:
AAS 58 (1966) 829.
114. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 25:
AAS 58 (1966) 829: cf. São Jerónimo, Commentarii in Isaiam, Prologus: CCL
73, 1 (PL 24, 17).
115. Hugo de São Vítor, De arca Noe II, 8: PL 176, 642: cf.
Ibid. 2. 9: PL 176, 642-643.
116. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum. 24:
AAS 58 (1966) 829.
117. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 11:
AAS 58 (1966) 822-823.
118. Cf. Orígenes, Homiliae in Exodum 4, 5: SC 321, 128 (PG
12, 320).
119. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 21:
AAS 58 (1966) 827.
120. Cf. Is 50, 4.