O TODO-PODEROSO
268. De todos os atributos divinos, só a omnipotência é
nomeada no Símbolo: confessá-la é de grande alcance para a nossa vida. Nós
acreditamos que ela é universal, porque Deus, que tudo criou (89), tudo
governa e tudo pode; amorosa, porque Deus é nosso Pai (90);
misteriosa, porque só a fé a pode descobrir, quando «ela actua plenamente
na fraqueza» (2 Cor 12, 9) (91).
«FAZ TUDO QUANTO LHE APRAZ» (Sl 115, 3)
269. As Sagradas Escrituras confessam, a cada passo, o
poder universal de Deus. Ele é chamado «o Poderoso de Jacob» (Gn 49,
24; Is 1, 24: etc.) «o Senhor dos Exércitos», «o Forte, o Poderoso»
(SI 24, 8-10). Se Deus é omnipotente «no céu e na terra» (Sl 135,
6), é porque foi Ele quem os fez. Portanto, nada Lhe é impossível (92) e Ele
dispõe à vontade da sua obra (93); Ele é o Senhor do Universo, cuja ordem foi
por Ele estabelecida e Lhe permanece inteiramente submissa e disponível; Ele é o
Senhor da história; governa os corações e os acontecimentos segundo a sua
vontade (94): «O vosso poder imenso sempre vos assiste – e quem poderá resistir
à força do Vosso braço?» (Sb 11, 21).
«PORQUE PODEIS TUDO, DE TODOS VOS COMPADECEIS» (Sb 11,
23)
270. Deus é o Pai todo-poderoso. A sua paternidade e
o seu poder esclarecem-se mutuamente. Com efeito, Ele mostra a sua omnipotência
paterna pelo modo como cuida das nossas necessidades (95) pela adopção filial
que nos concede («serei para vós um Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas,
diz o Senhor todo poderoso»: 2 Cor 6, 18); enfim, pela sua infinita
misericórdia, pois mostra o seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os
pecados.
271. A omnipotência divina não é, de modo algum,
arbitrária: «Em Deus, o poder e a essência, a vontade e a inteligência, a
sabedoria e a justiça, são uma só e a mesma coisa, de modo que nada pode estar
no poder divino que não possa estar na justa vontade de Deus ou na sua sábia
inteligência» (96).
O MISTÉRIO DA APARENTE IMPOTÊNCIA DE DEUS
272. A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à prova
pela experiência do mal e do sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e
incapaz de impedir o mal. Ora, Deus Pai revelou a sua omnipotência do modo mais
misterioso, na humilhação voluntária e na ressurreição de seu Filho,
pelas quais venceu o mal. Por isso, Cristo crucificado é «força de Deus e
sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e
o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens» (1 Cor 1, 25).
Foi na ressurreição e na exaltação de Cristo que o Pai «exerceu a eficácia da
[sua] poderosa força» e mostrou a «incomensurável grandeza que representa o seu
poder para nós, os crentes» (Ef 1, 19-22).
273. Só a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da
omnipotência de Deus. Esta fé gloria-se nas suas fraquezas, para atrair a si o
poder de Cristo (97). Desta fé é modelo supremo a Virgem Maria, pois acreditou
que «a Deus nada é impossível» (Lc 1, 37) e pôde proclamar a grandeza do
Senhor: «O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas; 'Santo' – é o seu nome» (Lc 1, 49).
274. «Portanto, nada é mais próprio para firmar a nossa fé
e a nossa esperança do que a convicção, profundamente arraigada nas nossas
almas, de que nada é impossível a Deus. Tudo o que [o Credo] seguidamente nos
propõe para crer, as coisas maiores, as mais incompreensíveis, bem como as mais
sublimes e mais acima das leis ordinárias da Natureza, basta que a nossa razão
tenha a ideia da omnipotência divina para as admitir facilmente e sem hesitação
alguma» (98).
Resumindo:
275. Confessamos com o justo Job: «Eu sei que podeis
tudo e que, para Vós, nenhum projecto é impossível» (Job 42, 2).
276. Fiel ao testemunho da Escritura, a Igreja dirige
muitas vezes a sua oração ao «Deus todo-poderoso e eterno» (omnipotens
sempiterne Deus), crendo firmemente que «a Deus nada é impossível» (Lc 1, 37)
(99).
277. Deus manifesta a sua omnipotência convertendo-nos
dos nossos pecados e restabelecendo-nos na sua amizade pela graça («Deus qui
omnipotentiam tuam parcendo maxime et miserando manifestas» – «Senhor; que
dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis»)
(100).
278. Se não crermos que o amor de Deus é omnipotente,
como poderemos crer que o Pai pôde criar-nos, o Filho remir-nos e o Espírito
Santo santificar-nos?
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